Quando andava pelo jardim, vi uma luz que que me fizera parar,
Se não fosse dia confundiria com o próprio sol.
Corri de peito aberto em sua direção, sem medo,
nunca tinha visto, sentido, nem ao menos imaginado algo tão brilhante.
A medida que me aproximava, o brilho aumentava, o calor me invadia como se eu tocasse a vida com as próprias mãos.
Eu ardia de tal forma que eu queria mais, eu queria a luz em mim, queria arder, me consumir!
Nisso
sentia as coisas se perdendo, nada importava, já não me lembrava de
quem eu fora antes. Como se toda minha vida tivesse sido uma espera e
agora sim, eu estava vivo!
E o calor maravilhosamente me queimava por dentro de modo a me fazer rir abertamente.
Mas
como se a luz desse por minha presença, senti que a luz se dissociava
de mim, eu não era a luz, a luz não estava em mim.... e percebi que
apesar da proximidade, uma distancia infinita nos separava.
Olhei ao
meu redor, e o que vi me fizera despencar. O jardim de outrora se
mostrava agora com a luz, de uma desolação fúnebre. Flores secas,
troncos retorcidos cravados num terreno negro e podre. Como um vento que
batesse em minha face, pude sentir o cheiro frio e metálico da
escuridão que me rondava.
Procurei entender como. Como a luz bela e
imponente que vi pode ser de tal forma traidora, rasgando sem pena o
quadro tão cuidadosamente por mim pintado.
Eu agora esquecido de quem
era, despido de tudo que tive (?) até então,tendo todo meu Eu consumido
por aquela luz, já não sabia onde ir.
Quando incinerei tudo daquela forma o que me sobrou foi o próprio fogo, a própria luz.
Mas da mesma forma que a luz era tudo o que eu tinha pra sentir. Eu não era nada que ela quisesse queimar.
A
luz se foi, mais a lembrança do que ela me revelou, do lugar que me
mostrou, ainda está na minha cabeça... e mesmo agora encolhido no escuro
posso sentir cada sentimento morto espalhado pelo chão.