terça-feira, 18 de junho de 2013

Euceano




De alma suada e pés feridos da caminhada, ele se sentou. Não como quem descansa, esse sentar era antes uma espera.
Com a fronte plácida e tranquila, ele debruçou com delicadeza seu olhar no horizonte, onde um mar dourado cintilava da alegria que o sol lhe salpicava.
Como quem percorrera todo um mundo de dificuldades e sofrimentos, ser terroso que sempre fora, buscava ao longe algo que ele mesmo não sabia nomear. Talvez apenas buscasse sem lhe importar o quê. Buscava um não encontrar, a ausência desse sufocante todo.
O coração sussurrava no peito: Eu quero ir embora. Embora de todos os lugares onde já estive.
Pra ele, sempre fora difícil partir. Ele que sempre permanece, que nunca vai ou abandona. Ele que com esse seu eterno ficar deixara um pouco de si em cada pedra pontiaguda da estrada, em cada poça lamacenta em que caíra. Tornara-se uma criatura repetidamente diluída no despropósito de viver.
Com mãos erguidas acima da cabeça, como numa prece silenciosa e sofrida, pediu ao céu que até agora esteve indiferente às atrocidades desse mundo, que lhe abençoasse com a água que dele cai. Diamantes líquidos em forma de chuva. Esperava que tal chuva levasse consigo seus pedaços perdidos pelo mundo e os entregasse aos rios onde águas vivas e fortes pudessem desagua-los nesse mar que lhe afrontava.
O oceano, vestia sua mais bela túnica dourada pelo sol e seu reflexo dava aos olhos do garoto uma vivacidade fugaz, porém genuína.
Sentado ali de pés semi-cobertos pela areia ainda aquecida pelo dia, ele com o mais lânguido dos olhares afrontou com um quase cinismo o gigante azul dourado:  Você que principia e termina desse chão que piso.Por que tu, mesmo tão grande e forte, permanece? Por que não invade, toma tudo? Por que não me leva contigo?
Apenas uma leve brisa arriscou um palpite.
Ela lhe soprara verdades infundadas de uma realidade improvável.
O mar adentrando seu mundo, alagando sua vida. Tudo úmido e frio. Todas as convicções, crenças e verdades boiando soltas, batendo umas contra as outras. Algumas afundam, outras a correte leva. Nada é certo. Tudo muda, se move, aparece e some, assim como ele sempre vive e também morre.
De súbito, como num redemoinho reverso, ele é lançado fora de si e de suas divagações.
O mar, audacioso e soberbo se mostrava agora com um manto da mais gélida cor azul, quando cheio de uma autoridade de força suprema e perene, ele soube se comunicar com o garoto, de uma forma só deles: Esqueça. Entenda a grandeza que existe no aceitar, a força da resignação. Não cometa o sacrilégio da revolta contra si. Pois o ganhar reside no se dar, bem como o ser se consegue deixando de existir.
Bebendo dolorosamente tais palavras que arderam com a acidez que só possuem as verdades imutáveis, ele afundou.
Afundou tanto que quando tocou o solo, estava dentro de si.