domingo, 7 de abril de 2013

A Imagem de um Inimigo sem Face

Um sentimento me arromba com voracidade num rompante de agonia, instalando-se em minhas próprias trevas a fim de consumir por dentro.
Ele me traz a falsa ideia de um sofrimento...
Mas ah! Feliz de mim se sangrasse e me doesse dessa tristeza.

Contrariamente, esse sentimento morno age cruelmente ameno... terrivelmente lento... tal como a água que nunca ferve, a represa que cheia que nunca transborda, a doença que nunca mata.

Enquanto escrevo, escorre em minha face as palavras  frustrantes de minha insaciedade.
Elas me veem como um fio de sangue que desce nas curvas do meu rosto continuamente sem nunca pingar.

Não fosse tão cruel, meu algoz se poria diante de mim uma única vez que seja, para que em sua face eu pudesse ao menos encontrar derivação dessa dor que me aflige.

Mas não!

Tal como um viciado se deleita em frenesi  entre as ruínas de uma construção abandonada, esse sentimento se esconde nas minhas próprias sombras, de forma a me dilacerar impunemente.

Pudera eu ter fim!
Pudera eu esperar o término de tudo... o término de mim.

Diferente disso, encontro-me  fadado à continua regeneração da carne morta, à vil renovação da mesma esperança pútrida que me mantém vivo eternamente.
De forma que o eterno me tenha para sempre como um objeto de mórbida crueldade.






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