domingo, 7 de abril de 2013

Negro como Rubi

Que seja eu a rainha desse palácio de lençóis, a viúva que nunca se casara, a meretriz que  deita-se com as sombras, aquela que plantou a árvore do fruto proibido, a morte sob vestes carmesins, a nuvem que chove o negro sobre o mundo.
 Que minhas ordens não sejam cumpridas com resignação ou presteza. Aprenda o que desejo mesmo que minhas palavras o contradigam. Este palácio nunca precisou de um rei, o que eu quero de você e a revolta do escravo rebelde, a ironia do súdito traidor e a crueldade fria do carrasco.
Se deite em silencio ao meu lado. Nenhuma palavra. Não quero saber qual o tom da sua voz, de sua boca não quero nem gemidos de prazer, pois esses devem ser os meus.
Não me beije na boca, eu tenho um corpo inteiro que arde. Não me afague, quando me tocar quero que meu corpo sinta toda a força que possui esses seus braços. Quero sentir o peso de seu corpo sobre o meu, e que entre eles só exista uma fina película de suor ardente. Quero pernas que me prendam, quero mãos em torno do pescoço e dentes na orelha.
Nunca me atraíram as águas paradas dos lagos, quero que entre em mim com a fúria com que o mar em ressaca invade uma gruta na praia.
Venha rápido, forte, profundo.
Tire seu olhar do meu, não venha se confessar pelo sacrilégio de sua fraqueza de alma, em mim não encontrara rendição, mas provavelmente, o castigo.
Me enoja o respeito. Não sou a senhora sua mãe, nem nunca fui donzela. Trate-me de acordo com minha condição de mulher aberta sobre lençóis úmidos de prazer, a cadela moribunda que vagueia pelo mundo num cio perpétuo, a ninfa escura dos pântanos fétidos, o lado negro da lua dos amantes.
Não me agrade como se faz com as mulheres de família, nunca fui uma delas. Sou solta no mundo, força liberta e devastadora. Você por certo não sobreviverá a mim, portanto não tente se fazer especial, isso só me traria desagrado e você com certeza não gostaria disso. Mascare essa sua mediocridade sob movimentos maquinais de selvageria impensada, e espere que em nenhum momento eu perceba em você  algum sinal desse seu íntimo infame e banal.
Não quero de forma alguma que me contamine, suje a si mesmo. Vá longe se lavar, leve com você tudo que e ameno, fraco e pequeno. Leve toda essa sua insossa satisfação pra longe dos meus olhos.
Quero que saia tal como entrou, em silêncio. E não olhe para traz, pra você eu serei a tormenta de raios que iluminou o céu de sua noite calma, pois à você foi destinados nada mais que manhãs de sol, nuvens claras e afagos amenos.

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